25-abr-2020
De Riversul/SP à Sengés/PR: Minha Primeira Cicloviagem

Antes e falar sobre a experiência da minha primeira cicloviagem, quero contar rapidamente como abandonei o sedentarismo e passei a praticar uma atividade extremamente prazerosa, cheia de desafios e de possibilidades, que é o de pedalar por aí, conhecer lugares diferentes, pessoas interessantes, testar e superar seus próprios limites.
Em 2008 ganhei uma bicicleta num sorteio de final de ano na empresa em que trabalhava. Fiquei todo feliz, pois desde criança sempre gostei de pedalar mas, em função de ter mudado do sítio para a cidade e, por medo de sair às ruas com uma bike, nunca tinha cogitado pedalar em São Paulo. Em 2009, para facilitar a minha aventura urbana, a prefeitura de São Paulo iniciou o projeto das Ciclofaixas de Lazer. Pronto. Era o incentivo/empurrão que faltava.
Comecei a fazer alguns pedais pela zona norte, depois fui até o centro e, quando me dei conta, já percorria boas distâncias na cidade.
Num belo dia, 03 anos após ter iniciado os pedais urbanos, pesquisando sobre trajetos de pedais na internet, cheguei ao Bike Luz em MG, trajeto que liga as cidades de Tombos até Alto Caparaó, percorrendo cerca de 200 km por belas paisagens do chamado Maciço ou Serra do Caparaó, onde encontram-se inúmeras cachoeiras, uma bela cobertura de Mata Atlântica e, o mais desafiador, o Pico da Bandeira, com seus 2890 metros de altitude. Vi umas fotos, assisti uns vídeos e bateu aquela vontade de fazer este pedal e superar um desfio pessoal.
Tendo definido que faria este pedal, me deparei com outro desafio, que era o de planejar a atividade de forma que, mesmo estando bem acima do peso considerado ideal e, mais que isso, sem nunca ter pedalado na estrada e por vários quilômetros seguidos, pudesse realizar o percurso sem nenhum tipo de prejuízo individual ou para o grupo (na verdade a preocupação era a de não passar vergonha).
Como precisava treinar e fazer a experiência de botar a minha bike (muito básica) na estrada, decidi conhecer a região de Itararé/SP e Sengés/PR, local onde há um grande conjunto de cachoeiras que sempre tive vontade de conhecer e que serviria totalmente como treino para o Bike Luz. Para não fazer o trajeto sozinho, convidei o meu amigo Marcelo Duílio para fazê-lo comigo e ele prontamente topou o convite.
E Riversul, como entra na história? Pois é. Riversul (localizada no sudoeste de SP, distante cerca de 400 km da capital) é minha cidade natal e minha mãe tem sítio e mora lá. Então, entre os dias 16 e 18/01/2013, lá fomos nós em busca da superação do primeiro teste de estrada e trilha antes do Bike Luz. A esta altura o Duílio também tinha comprado uma bike, começado a pedalar na cidade e feito a inscrição para o trajeto mineiro (Bike Luz), então, precisava tanto quanto eu de um treino/desafio.

Saímos do sítio às 13h do dia 16 de janeiro. Aí você que é um ciclista experiente sabe que escolhemos a pior hora do dia para começarmos a pedalar. Mas, tínhamos 14km até Riversul, mais 43 até Itararé e mais 17 até Sengés, totalizando 74 km. Lembrando que era a nossa primeira experiência na estrada, que a região é repleta de subidas e descidas, algumas bem longas, diga-se de passagem, e que começamos o pedal às 13 horas. OK?
Pois é, você deve estar pensando que não deveríamos ter feito desta forma e eu sou obrigado a concordar contigo. Quando chegamos em Itararé já era final de tarde e eu já não tinha mais pernas para pedalar os últimos 17 km até Sengés pois, conforme falei, as subidas são bem longas nesta estrada.
Conversa rápida com o parceiro de estrada (Duílio) e decidimos que dormiríamos em Itararé e sairíamos bem cedo no dia seguinte para podermos apreciar o trajeto entre as cidades (onde encontramos várias cachoeiras) e, mais que tudo, chegarmos às cachoeiras de Sengés, nosso grande objetivo.
Na estadia rápida em Itararé, depois de nos instalarmos num dos hotéis da cidade, fomos jantar. Confesso que eu já estava me achando “o” ciclista, quando adentrou pelo restaurante um ciclista empurrando a sua bike toda carregada de alforjes. Após o jantar puxamos papo e descobrimos que ele saíra de São Paulo rumo à Montevidéo e que estava pedalando cerca de 200km/dia. Os 57 km/dia que tinha acabado de fazer foram parar no lixo em comparação ao jovem ciclista e seus 200 km/dia. Mas, a vida é assim. Cheia de desafios e gente inspiradora. Daí, nem fiquei com inveja pois já comecei a pensar na possibilidade de um dia, lá longe, também fazer uma viagem cruzando as fronteiras do país. Mas aí é outra história.
Fomos dormir e às 5h da matina do dia 17/01/2013, partimos rumo à Sengés e suas cachoeiras. Várias subidas até a cidade, conversa rápida para descobrirmos o trajeto das cachoeiras e, lá fomos nós. Para quem não conhece, a cidade de Sengés fica na região de Ponta Grossa, cortada pela formação geológica Quartelá, que forma um dos maiores cânions do mundo. Está localizada no chamado segundo Planalto Paranaense e foi formada pelos tropeiros que traziam o gado da região do Rio Grande até Sorocaba, onde havia uma grande feira de animais.
Hoje o município tem cerca de 19 mil habitantes, sua economia vem da agricultura e da indústria madeireira. Mas, o turismo tem crescido na região, já que as belezas naturais não faltam. Feita a apresentação de Sengés, lá fomos nós rumo às cachoeiras. Muitas subidas, descidas, cascalhos, diversas áreas de reflorestamento, grandes campos de produção de feijão e, no meio deste conjunto de paisagens, a presença de um relevo acidentado e vários rios como o Jaguaricatú, Lajeado Grande, dos Bugres, do Mosquito, Rio Claro e Rio Alegre, nos quais temos a formação de inúmeras cachoeiras que valem a visita, o cansaço do pedal e o prazer de conhecer, além de todas as demais possibilidades que uma bela queda de água gelada podem promover.
Para finalizar o longo relato, pernoitamos em Sengés e, no dia 18/01/2013 partimos de volta à Riversul. Confesso que os 74 km de distância entre as cidades já não pareciam mais tão longos. E, assim, finalizo o relato do primeiro treino para o Bike Luz que realizamos em julho do mesmo ano. Se eu que nunca tinha colocado a bike na estrada, acabei fazendo duas pequenas cicloviagens num período de 5 meses, então, qualquer pessoa que esteja pensando em começar a pedalar e está projetando uma cicloviagem, minha dica é, escolha um trajeto, prepare-se, e vá em frente. Com certeza terá muito êxito.
Se for possível, faça como eu fiz. Leve um grande amigo contigo. Isto ajuda a fazer a diferença.
Ah, e para registrar, foi no BIKE Luz de 2013 que conheci uma galera do ICB – Instituto Cicloativo do Brasil que são meus amigos até hoje.
Até uma próxima conversa e bora pedalar por aí.
Por Profº Paulo Mendes, ciclista urbano, bacharel e licenciado em Geografia pela PUC/SP e voluntário do Instituto Cicloativo do Brasil.
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