24-mai-2020
Estrada da Petrobrás de Bike

O Plano
Esse trajeto fez parte de uma cicloviagem nossa, minha e do meu marido Igor. O rolê começou em São Paulo, partindo da nossa casa mesmo e terminou em Guaratinguetá, passando por Paraty e Cunha.
Pois bem, chegou o dia de pegar a tal estrada para chegar ao litoral. Sabíamos que o trajeto tinha 75km, saindo da simpática Salesópolis, onde paramos para dormir.
“75km a gente faz de boa em um dia”, calculamos. Isso porque o Igor tinha visto em algum blog um “amador” dizendo que teve que fazer esse percurso em dois dias, pois era muito pesado.
“Nossa, que exagero desse cara! Deve ser iniciante ele… Por isso acampou na estrada depois de percorrer a primeira metade”, pensamos, “a gente faz 75km num dia tranquilamente”. E, assim, deixamos o aconchegante Hostel de Salesópolis, onde uma das proprietárias nos disse:
- Olha, de carro, a gente costuma fazer em duas horas.
Isso só confirmou nosso raciocínio. Partimos. Chegamos ao início da estrada já eram quase nove da manhã. Aí, é aquele negócio: mata atlântica, céu azul, passarinhos, estradinha de terra, muitas árvores, tudo lindo… e mandamos ver nas fotos.
Seguíamos, lépidos e faceiros, até que chegamos a uma cachoeira. “Nossaaaa, a gente tem que parar!” e molhar os pés, faz videozinho para os amigos e familiares, comer um lanchinho… Aquela coisa…


Voltamos para estrada, que a partir dalí já era totalmente de terra.
Mais adiante
Sem noção nenhuma do tempo e o com cansaço dando o ar da graça, paramos para tomar água. Vejo o Igor olhando para o GPS e pergunto:
- Que horas são, querido?
- Melhor você não saber, Eliane.
Pensa num cagaço. Eram umas duas da tarde e devíamos ter mais uns quarenta quilômetros pela frente. Só não sabíamos como seriam.

Depois dessa parte, não temos mais muitas fotos.
A estrada, que era de terra, passou a ser de pura pedra. Quando vi o Igor empurrar em determinado trecho, pensei: “fudeu”. A partir daí, a estrada ficou só assim mesmo, pura pedra. O Igor ia na frente. Deixava a bicicleta dele. Voltava e pegava a minha, porque a essa altura eu já não tinha mais perna.

Seguimos, mas ainda não tinha me dado vontade de chorar.
Depois de algum tempo, começo a achar que estamos no caminho errado. Só pode ser. Não chegava nunca! E nenhum sinal da tal Petrobrás. Nesse momento, entendi porque o tal carinha do blog dividiu o percurso e duas partes. Depois de vinte anos-luz, chegamos ao que seria algum estabelecimento da Petrobrás. Mas não adiantou nada. Aquilo não daria carona para gente. Seguimos em meio às pedras.
O cair do dia
Aquilo foi ficando escuro, mas, graças a Deus, não estava frio. Estava bem quente, aliás.
A vontade de chorar veio, mas a única alternativa era seguir. De repente, passou uma kombi. “Vamos conseguir carona!”, pensei otimista. O cicloviajante é, antes de tudo, um otimista.
- Falta muito para chegar em Caraguá, moço?
- Ah, mais uns vinte quilômetros vocês chegam.
- Tem como dar uma carona para gente?
- Vixi… tá lotado, moça, não tem lugar.
A kombi transportava trabalhadores da estação da Petrobrás de volta para a cidade e não tinha lugar nem para uma mosca.
Seguimos.
Comecei a chorar muito desesperada. Numa tentativa de me tranquilizar, Igor me diz:
- Calma, Flor, olha os vaga-lumes que lindos.
Mano, eu estava cagando para eles. Queria chegar em qualquer lugar. Tomar banho, comer e nunca mais andar de bicicleta.
E seguimos.
- Você está com uma cara de cansada.
Minha lanterna era muito fraca e não tínhamos ideia de como era o nosso entorno. O Igor tinha uma lanterna bem forte. Ele ia atrás iluminando e eu na frente descendo. Sim, ainda era de pura pedra a estrada.
Para mim, esse foi momento mais legal. O trabalho em equipe. Tínhamos que descer com cuidado, “dividindo” uma lanterna.
De repente, começam a surgir casas. Eu já queria parar e pedir abrigo. O Igor falava “já estamos quase chegando, Flor”.
As pedras deram lugar à areia, que deu lugar ao asfalto.
Chegamos num mercadinho. Eu podre de cansaço. Uma senhora que saía do mercado, me viu e disse:
- Nossa, você tá com uma cara de cansada.
Não tinha forças nem para responder.
Conseguimos achar um lugarzinho para dormir e dormimos o sono dos justos.
Estrada da Petrobrás. Essa foi minha experiência. E a sua? :)
Por Eliane da Silva Fernandes, Tradutora, formada em Letras pela UNESP de São José do Rio Preto, grande apreciadora de cicloviagens e membro voluntário do Instituto Cicloativo do Brasil.
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